O INSETO
Sobre a superfície líquida
Está ele a se debater
Lutando contra a morte
Apenas querendo viver
Toda sua luta é em vão
Seu corpo oscila
Como se parte fizesse
Daquelas oscilações
Criadas pelos pingos
Que intermitentemente
Sobre aquela superfície
Unia-se
E agora acho que morto jaz
Sobre a superfície líquida
E seu corpo baila
Para lá e para cá
Como determinam aquelas oscilações
Mas vejo que volta
A se debater como se
Da vida não tivesse
Ainda desistido
-O que será que se passava àquele momento
nàquela mente de inseto?
-Uma simples vontade
De desistir da vida ou
Uma simples vontade
De descansar
Para recuperar o fôlego
Que já parecia ser pouco?
Não! desistir da vida não
Os insetos não têm amor pela vida
Mas devem saber
O bastante sobre ela
Para preferir-la , peregrina-la
Em revés a morte
Continuo contemplando aquela superfície líquida
E vejo.
Ele seguindo curso retilíneo
Não uniforme
Tanto por sua força ao se debater (nadar)
Outros tantos
Pelas aquelas oscilações intermitentes
Então o inseto entra
No que para mim
Era um lugar seguro
Mas para ele
Apenas o reflexo de meu teto
Sobre aquele espelho líquido
Naquele instante
Como se seu instinto
De inseto o guiasse plenamente
Deu tudo de si
E debateu-se (nadou) incessantemente
Rumando firme
Naquela direção que pegara
Como se nela estivesse e estava
A sua própria salvação
Mas o caminho era longo para um inseto
E seu fôlego era pouco
Então sem pensar
Em distância e suprimentos
Nadou... nadou... nadou... nadou...
Até que não mais pode prosseguir
Seu corpo inanimado ficou
Sobre aquelas águas
Que com o corpo
Logo começaram a bailar
Um pra lá , dois pra cá
Dois pra cá , um pra lá
Como se estivessem dançando ao som daqueles pingos
A dança do ciclo vital
Que para o inseto , terminara
De forma líquida , com música e desespero.
Nenel Araujo